quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Catalunha: para além da vitória da CIU

Está é a minha análise dos resultados eleitorais na Catalunha, elaborada para o Instituto da Democracia Portuguesa.

Duas semanas passadas sobre as eleições catalãs, constatamos que Espanha não se desmembrou e que a Catalunha não está mais perto da independência.

O aspecto mais destacado nas análises à jornada eleitoral de 25 de Novembro foi a perda de deputados da formação política de Artur Mas, a Convergència i Unió (CIU), que passou de 62 para 50 deputados. Com efeito, a forma personalizada com que Mas conduziu todo o processo político, dissolvendo o parlamento autonómico dois anos antes do fim da legislatura e fazendo do referendo pela independência um cavalo de batalha, levou a que a campanha se centrasse nas suas propostas. Porém, para além da queda da CIU, convém observar com mais detalhe os resultados.

Começando pela tradicional (e atabalhoada) divisão entre nacionalismo catalão e espanholismo, as contas não se revelam tão negativas para os catalães como a quebra da principal força nacionalista poderia fazer crer. A Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), partido geneticamente independentista desde a sua fundação nos anos trinta do século passado, subiu a segunda formação parlamentar e passou de 10 para 21 deputados. A eco-socialista Iniciativa per Catalunya (ICV), tendencialmente alinhada com o nacionalismo catalão, também cresceu, tendo agora 13 deputados, mais 3 do que na legislatura anterior. Desaparece do cenário parlamentar a Solidaritat Catalana per la Independència, que contava com 4 deputados, mas emerge a Candidatura d’Unitat Popular, com 3 eleitos. Ambas as formações alinham pelo independentismo, mas esta última é abertamente de esquerda. No total, as formações próximas do nacionalismo catalão passaram de 86 para 87 deputados.

No lado oposto do espectro identitário, as contas são semelhantes. O Partit dels Socialistes de Catalunya (PSC) desceu de 28 para 20 deputados, enquanto o mais espanholista dos partidos com representação parlamentar na Catalunha, o Partido Popular (PP), subiu de 18 para 19 deputados. A grande surpresa foi a pequena formação Ciudadanos, que viu multiplicado por três o seu anterior grupo parlamentar, contando agora com 9 eleitos. No total, estas forças descem de 49 para 48 deputados.

No global, os alinhamentos identitários pouco se alteraram. No entanto, na prática, Mas e a sua  proposta de uma potencial independência catalã ficam muito abaladas. Pelo contrário, o PP conseguiu melhorar ligeiramente, mesmo no contexto de austeridade com que tem exercício o poder central. Já o PSC, à semelhança de muitos outros partidos socialistas e sociais-democratas europeus, continua sem encontrar uma linha de actuação coerente. Ao não definir claramente de que lado da barricada identitária e ideológica se encontra, perde votos para os movimentos que se definem melhor: em termos de identidade, perde para o PP; e em termos de ideologia, perde para a ICV e para a ERC. Não deixa de ser sintomático que o partido que, formal e materialmente, mais se aproxima do modelo de Estado autonómico em vigor em Espanha e na Catalunha seja o que menos força demonstra quando esse mesmo modelo é debatido e posto em causa.

Com o novo cenário parlamentar (e sobretudo político), emergem muitas incertezas. O futuro governo catalão será forçosamente mais frágil, porque dependerá mais do apoio parlamentar de outras formações. A crise económica e financeira parece estar para durar em Espanha e na Catalunha e um previsível resgate internacional exigirá muito dialogo entre Madrid e Barcelona. A independência ficou mais longe, mas as incertezas aumentaram consideravelmente.

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