sábado, 15 de dezembro de 2012
Egipto já vota nova Constituição
Os egípcios já estão a votar o projecto constitucional. O referendo decorre em duas etapas, com os eleitores de algumas províncias a ser chamados às urnas hoje e os das restantes no próximo sábado. Recorde-se que todo este processo eleitoral tem sido acompanhado por intensa polémica, com confrontos abertos entre islamistas, por um lado, e laicos e cristãos, por outro.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Quantas mortes serão necessárias?
Quantos assassinatos em massa serão necessários para que seja revista a legislação (incluída a Constituição) dos Estados Unidos da América em matéria de controlo de armas? É mais do que evidente que são necessárias medidas legislativas para conter este tipo de criminalidade, mas todo o sistema norte-americano continua a evitar o problema. A força do lobby das armas é tão forte que o próprio Barack Obama (que, enquanto presidente, nesta matéria, tem muito pouca margem de manobra) tem evitado pronunciar-se de forma veemente sobre o tema, apesar de ser um crítico da liberalização das armas.
Demissão no governo israelita
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel demitiu-se depois de ter sido imputado por fraude e abuso de confiança.
Avigdor Lieberman é o principal aliado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com quem se apresenta em coligação às eleições legislativas do princípio do próximo ano. Ainda não há sondagens que indiciem potenciais efeitos eleitorais deste acontecimento.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Catalunha: para além da vitória da CIU
Está é a minha análise dos resultados eleitorais na Catalunha, elaborada para o Instituto da Democracia Portuguesa.
Duas semanas passadas sobre as eleições catalãs, constatamos que Espanha não se desmembrou e que a Catalunha não está mais perto da independência.
O aspecto mais destacado nas análises à jornada eleitoral de 25 de Novembro foi a perda de deputados da formação política de Artur Mas, a Convergència i Unió (CIU), que passou de 62 para 50 deputados. Com efeito, a forma personalizada com que Mas conduziu todo o processo político, dissolvendo o parlamento autonómico dois anos antes do fim da legislatura e fazendo do referendo pela independência um cavalo de batalha, levou a que a campanha se centrasse nas suas propostas. Porém, para além da queda da CIU, convém observar com mais detalhe os resultados.
Começando pela tradicional (e atabalhoada) divisão entre nacionalismo catalão e espanholismo, as contas não se revelam tão negativas para os catalães como a quebra da principal força nacionalista poderia fazer crer. A Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), partido geneticamente independentista desde a sua fundação nos anos trinta do século passado, subiu a segunda formação parlamentar e passou de 10 para 21 deputados. A eco-socialista Iniciativa per Catalunya (ICV), tendencialmente alinhada com o nacionalismo catalão, também cresceu, tendo agora 13 deputados, mais 3 do que na legislatura anterior. Desaparece do cenário parlamentar a Solidaritat Catalana per la Independència, que contava com 4 deputados, mas emerge a Candidatura d’Unitat Popular, com 3 eleitos. Ambas as formações alinham pelo independentismo, mas esta última é abertamente de esquerda. No total, as formações próximas do nacionalismo catalão passaram de 86 para 87 deputados.
No lado oposto do espectro identitário, as contas são semelhantes. O Partit dels Socialistes de Catalunya (PSC) desceu de 28 para 20 deputados, enquanto o mais espanholista dos partidos com representação parlamentar na Catalunha, o Partido Popular (PP), subiu de 18 para 19 deputados. A grande surpresa foi a pequena formação Ciudadanos, que viu multiplicado por três o seu anterior grupo parlamentar, contando agora com 9 eleitos. No total, estas forças descem de 49 para 48 deputados.
No global, os alinhamentos identitários pouco se alteraram. No entanto, na prática, Mas e a sua proposta de uma potencial independência catalã ficam muito abaladas. Pelo contrário, o PP conseguiu melhorar ligeiramente, mesmo no contexto de austeridade com que tem exercício o poder central. Já o PSC, à semelhança de muitos outros partidos socialistas e sociais-democratas europeus, continua sem encontrar uma linha de actuação coerente. Ao não definir claramente de que lado da barricada identitária e ideológica se encontra, perde votos para os movimentos que se definem melhor: em termos de identidade, perde para o PP; e em termos de ideologia, perde para a ICV e para a ERC. Não deixa de ser sintomático que o partido que, formal e materialmente, mais se aproxima do modelo de Estado autonómico em vigor em Espanha e na Catalunha seja o que menos força demonstra quando esse mesmo modelo é debatido e posto em causa.
Com o novo cenário parlamentar (e sobretudo político), emergem muitas incertezas. O futuro governo catalão será forçosamente mais frágil, porque dependerá mais do apoio parlamentar de outras formações. A crise económica e financeira parece estar para durar em Espanha e na Catalunha e um previsível resgate internacional exigirá muito dialogo entre Madrid e Barcelona. A independência ficou mais longe, mas as incertezas aumentaram consideravelmente.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Berlusconi à beira da extinção?
Silvio Berlusconi regressou em grande à política. Como seria de esperar, o seu comportamento é o de um alucinado político desesperado, que tudo fará para conquistar os votos suficientes para sabotar o sistema italiano. Ontem à noite, atacou tudo e todos, com um discurso semelhante ao da extrema-esquerda grega.
Esta é uma excelente oportunidade para o centro e para a esquerda apresentarem projectos com pontos comuns que viabilizem uma governação moderada a partir de Fevereiro. Chegou a hora de ver se são capazes de correr com Berlusconi de uma vez por todas.
Esta é uma excelente oportunidade para o centro e para a esquerda apresentarem projectos com pontos comuns que viabilizem uma governação moderada a partir de Fevereiro. Chegou a hora de ver se são capazes de correr com Berlusconi de uma vez por todas.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Catalães nas ruas
O governo espanhol não teve inteligência suficiente para compreender o resultado das eleiçōes autonómicas catalãs do passado dia 25. Só assim se explica que esteja a desperdiçar a meia derrota do nacionalismo catalão com uma proposta reforma educativa que visa atacar directamente o sistema educativo linguístico da Catalunha. Este é um dos pilares estruturais da autonomia desta região. O resultado não se fez esperar e os catalães estão novamente na rua, tendo Madrid como alvo.
Nem com o Nobel
Xavier Hape |
A instabilidade em Itália fez-se sentir, hoje de manhã, sobretudo... em Espanha. Com o anúncio da saída de Monti, os juros da dívida espanhola voltaram a subir e as notícias sobre o inevitável resgate a uma das principais economias do mundo voltam às primeiras páginas dos jornais. Madrid já não nega, mas continua sem poder afirmar o que quer que seja. Entretanto, Berlim e Bruxelas permanecem impávidas perante os apelos repetidos do governo espanhol para um plano estruturado de salvação do euro que inclua a compra de dívida pelo Banco Central Europeu.
Nem o Prémio Nobel da Paz parece servir para unir uma União Europeia totalmente à deriva.
Durão Barroso, o responsável
Ssolbergj |
Mercados censuram Berlusconi
Hoje até concordo com os mercados, que estão a censurar a demissão de Mario Monti e ao regresso de Silvio Berlusconi. A taxa de juro da dívida italiana cavalga a bom cavalgar e a bolsa de Milão está em queda acentuada.
domingo, 9 de dezembro de 2012
Domingos europeus
Aos Domingos, especialmente no Inverno, costuma haver eleições em qualquer parte do mundo. Hoje, celebraram-se legislativas na Roménia e as primeiras projecções apontam para uma vitória muito folgada da coligação entre sociais-democratas e liberais (no poder).
Ainda mais ampla foi a maioria alcançada pelo candidato do SPD a chanceler da Alemanha, Peer Steinbrück, ungido pelo seu partido com uns muito confortáveis 93,5% dos 600 delegados reunidos para o efeito. Curiosamente, Steinbrück contrariou o muito que se tem escrito a seu respeito e, num discurso de duas horas, recusou de forma liminar uma aliança pós-eleitoral com Merkel, ao mesmo tempo que criticou as políticas da governante alemã em relação aos países menos favorecidos da união económica e monetária (nos quais Portugal se inclui, obviamente).
Amanhã bem cedo, os olhos da Europa estarão fixos nos mercados italianos e na forma como estes reagirão ao regresso de Berlusconi à política activa e ao anúncio da demissão de Mario Monti.
Ainda mais ampla foi a maioria alcançada pelo candidato do SPD a chanceler da Alemanha, Peer Steinbrück, ungido pelo seu partido com uns muito confortáveis 93,5% dos 600 delegados reunidos para o efeito. Curiosamente, Steinbrück contrariou o muito que se tem escrito a seu respeito e, num discurso de duas horas, recusou de forma liminar uma aliança pós-eleitoral com Merkel, ao mesmo tempo que criticou as políticas da governante alemã em relação aos países menos favorecidos da união económica e monetária (nos quais Portugal se inclui, obviamente).
Amanhã bem cedo, os olhos da Europa estarão fixos nos mercados italianos e na forma como estes reagirão ao regresso de Berlusconi à política activa e ao anúncio da demissão de Mario Monti.
O relato de Zapatero
José Luis Rodríguez Zapatero começa paulatinamente a reaparecer na vida pública. Na edição dominical do diário madrileno El País, o veterano jornalista Luis Aizpeolea assina um artigo em forma de entrevista indirecta ao anterior presidente do governo de Espanha. Zapatero vai lançar em breve um livro sobre a crise e sobre a sua última e difícil etapa como governante. Será interessante começar a reunir todos estes relatos na primeira pessoa para melhor compreendermos o que se passa nas nossas costas. Já que os actuais governantes não nos explicam nada, olhemos para o que dizem os anteriores.
País Basco, vira o disco e toca o mesmo
O antigo braço político da ETA, agora denominado Bildu, continua com os seus jogos semânticos. Prestou homenagem a "todas as vítimas" do conflito no País Basco, mas não se referiu directamente às vítimas do terrorismo etarra. Vira o disco e toca o mesmo. Ainda não há uma compreensão clara do problema em todas as suas dimensões, o que impede uma resolução plena do conflito.
Domingo de manhã
A edição de hoje do jornal Público (cada vez mais parecido com um semanário) tem como tema de capa a comparação entre Portugal e a Grécia. Vale a pena ver o que nos aproxima e afasta de Atenas. Cada vez é mais importante ir buscar informação ao exterior e formular ideias e opiniões partir desses dados. Por cá, já percebemos que temos um governo que não nos informa de nada e que é uma nulidade em termos de relações externas.
Monti prepara demissão
Sábado à noite é um daqueles momentos da semana em que achamos que nada acontece em nenhuma parte do mundo, excepto uma catástrofe natural. Hoje a excepção confirma a regra: em Itália, depois de Berlusconi anunciar que vai candidatar-se pela centésima vez a presidente do Conselho de Ministros, Mario Monti comunicou que prepara a sua demissão. Segunda-feira, os mercados deverão tremer. Porém, a notícia pode não ser má, se antecipar o calendário eleitoral e se as eleições proporcionarem um chuto definitivo no traseiro de Berlusconi.
No Egipto, Morsi anulou o seu decreto estapafúrdio que lhe outorgava poderes extraordinários. Benditas forças armadas, bendito fim-de-semana.
No Egipto, Morsi anulou o seu decreto estapafúrdio que lhe outorgava poderes extraordinários. Benditas forças armadas, bendito fim-de-semana.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Monólogos europeus
Depois de o Presidente da República ter alertado subtilmente para as flagrantes contradições no discurso da União Europeia em relação à Grécia e a Portugal, o governo português recuou novamente. Paulo Portas veio ontem dizer que alguns dos benefícios obtidos por Atenas deverão fazer-se sentir em Lisboa. Todo o debate em torno a esta questão permite uma breve reflexão acerca da informação e do poder nos dias que correm.
Em pleno 2012, os governantes da União Europeia, incluindo os da Alemanha, são obrigados a falar de forma encriptada, para os investidores ouvirem o que querem ouvir, mesmo que isso implique mentir ou omitir aos cidadãos que representam e que os elegeram. Durante estas duas semanas, assistimos a sucessivos monólogos em Bruxelas, Berlim, Paris, Atenas e Lisboa. E assistimos a monólogos, quando deveríamos estar a assistir a diálogos. Os parceiros não falam entre si, nem falam com os seus cidadãos. Desde que a crise das dívidas soberanas começou, só se fala para os mercados, o que gera uma confusão tremenda e um mar de contradições.
Este é o resultado de termos técnicos competentes (ministro das Finanças) a mandar em políticos fracos (primeiro-ministro): a tecnocracia sobrepõe-se à democracia.
Em pleno 2012, os governantes da União Europeia, incluindo os da Alemanha, são obrigados a falar de forma encriptada, para os investidores ouvirem o que querem ouvir, mesmo que isso implique mentir ou omitir aos cidadãos que representam e que os elegeram. Durante estas duas semanas, assistimos a sucessivos monólogos em Bruxelas, Berlim, Paris, Atenas e Lisboa. E assistimos a monólogos, quando deveríamos estar a assistir a diálogos. Os parceiros não falam entre si, nem falam com os seus cidadãos. Desde que a crise das dívidas soberanas começou, só se fala para os mercados, o que gera uma confusão tremenda e um mar de contradições.
Este é o resultado de termos técnicos competentes (ministro das Finanças) a mandar em políticos fracos (primeiro-ministro): a tecnocracia sobrepõe-se à democracia.
Berlusconi, sempre Berlusconi
Autor: Ricardo Stuckert, Agência Brasil |
Egipto: qual o papel das forças armadas?
Gigi Ibrahim |
A grande incógnita deste confronto reside nas forças armadas, que têm vindo a perder influência política nos últimos meses. Durante anos, os militares estiveram associados ao regime de Mubarak, um antigo general. Porém, com Morsi tudo é diferente. Não provém do exército, mas sim de uma organização islamista que nunca despertou grandes simpatias nos meios castrenses. Apesar das mudanças promovidas pelo actual presidente na cúpula militar, não é líquido que esta esteja disposta a arriscar-se por uma tendência política que sempre combateu.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Portugal, moderadamente corrupto
A organização Transparência Internacional divulgou a sua lista anual que classifica o nível de corrupção dos Estados. A Somália é o país mais corrupto e a Dinamarca o mais transparente. Na União Europeia, os gregos serão os mais corruptos, surgindo a meio da tabela mundial, a par da Colômbia. Portugal beneficia de uma classificação bem melhor: 33º lugar em 176 possíveis. No entanto, parece evidente que a crise acentua o fenómeno. Mais um critério sistematicamente ignorado por Bruxelas, por Berlim... e por Lisboa. Vale a pena ver o vídeo que explica este ranking.
Toda a informação está disponível no site da organização.
Toda a informação está disponível no site da organização.
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Presidenciais brasileiras de 2014 já mexem
Eurico Zimbres |
Egípcios contra Morsi
Os protestos contra o presidente egípcio Mohamed Morsi têm ido em crescendo. Vários partidos e movimentos laicos contestam nas ruas o projecto de Constituição que irá ser submetido a referendo no próximo dia 15. Os manifestantes rodearam esta tarde o palácio presidencial e tentaram romper os cordões de segurança. Morsi viu-se, assim, obrigado a abandonar o edifício.
A crise explicada em 7 minutos
Vale a pena ver este vídeo sobre a economia espanhola. De forma muito simples, consegue explicar-nos a crise de "nuestros hermanos". Muito do conteúdo também é aplicável a Portugal.
Quase 5 milhões de desempregados
Zaqarbal |
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Repsol processa Argentina
Segundo o diário El País, a Repsol apresentou queixa contra a Argentina no tribunal internacional de arbitragem. O protesto da empresa espanhola tem por base a expropriação de 51% da companhia argentina YPF, nacionalizada pelo governo de Cristina Kirchner em Abril deste ano.
Gregos e portugueses
O executivo grego continua a dar passos para estabilizar a economia e as finanças do país. Para já, foram anunciados os aspectos gerais do programa de compra da própria dívida. Entretanto, Merkel, que conseguiu fazer aprovar no parlamento alemão, por larga maioria, as novas condições de financiamento a Atenas, deixou em aberto um novo perdão da dívida.
Portugal parece mesmo o "tonto de serviço", com um governo que continua a assobiar para o lado, como se nada disto lhe dissesse respeito.
Portugal parece mesmo o "tonto de serviço", com um governo que continua a assobiar para o lado, como se nada disto lhe dissesse respeito.
O português mais importante do mundo
Barack Obama é conhecido pelo seu bom humor e pela forma como transformou a Casa Branca numa instituição menos pesada e menos formal. Aqui fica mais um exemplo desta atitude. Bo, provavelmente o português mais poderoso do mundo, deseja um Bom Natal aos seus cidadãos.
A vingança de Israel, parte 3
Os principais aliados internacionais de Israel, incluindo os Estados Unidos, parecem estar a perder a paciência com o governo de Benjamin Netanyahu. A principal razão para a irritação de Washington (que, depois do apoio incondicional às posições israelitas na ONU, parece ir em crescendo) reside no projecto de construção que permitiria a ligação da cidade de Jerusalém ao colonato de Maale Adumum. Esta nova expansão territorial impediria a continuidade territorial da Palestina, colocando mais um entrave à implementação da política de dois Estados para a região.
domingo, 2 de dezembro de 2012
Israel congela transferências para a Palestina
Israel suspendeu hoje as transferências financeiras para a Autoridade Palestiniana, com o pretexto da falta de pagamentos à companhia eléctrica nacional. Os 90 milhões de euros em questão são relativos a impostos cobrados aos palestinianos. Depois da decisão de construir novos colonatos, esta é mais uma retaliação pela aprovação do estatuto de observador nas Nações Unidas.
As eleições legislativas continuam, assim, a ditar a política do governo israelita.
As eleições legislativas continuam, assim, a ditar a política do governo israelita.
Um Hércules para a esquerda italiana
Enquanto os partidos portugueses e espanhóis continuam presos às velhas fórmulas de sempre, o centro-esquerda italiano celebra hoje a segunda-volta das eleições primárias para definir o seu candidato à presidência do Conselho de Ministros (o equivalente italiano a primeiro-ministro). Esta não é a primeira "edição" de umas eleições que são transversais a vários partidos e que procuram incluir a sociedade civil na vida política.
Depois de anos com Berlusconi a dominar e a desacreditar a cena pública, os partidos de esquerda têm a hipótese de regressar ao poder no ano que vem. Mas convirá que tenham aprendido com os erros do passado. Há tendência, na comunicação social, a "alargar" o período histórico de Berlusconi no poder e a esquecer que Itália tem tido vários executivos de centro-esquerda. Entre 1996 e 2000 e entre 2006 e 2008, a esquerda foi maioritária no parlamento italiano e chefiou quatro governos. No entanto, os desentendimentos entre comunistas, ex-comunistas, sociais-democratas, ecologistas e democratas-cristãos de esquerda ditou sempre a sua queda.
O principal desafio do centro-esquerda não será, assim, confrontar o centro-direita (semi-destruído pelo próprio Berlusconi), mas sim controlar os seus ímpetos auto-destrutivos. Além do mais, o futuro candidato a primeiro-ministro tem de fazer frente à boa imagem de que goza o governo tecnocrático encabeçado por Mario Monti e desarticular o movimento populista anti-político liderado pelo cómico Pepe Grillo. Tarefas que não parecem nada simples para um só homem.
Depois de anos com Berlusconi a dominar e a desacreditar a cena pública, os partidos de esquerda têm a hipótese de regressar ao poder no ano que vem. Mas convirá que tenham aprendido com os erros do passado. Há tendência, na comunicação social, a "alargar" o período histórico de Berlusconi no poder e a esquecer que Itália tem tido vários executivos de centro-esquerda. Entre 1996 e 2000 e entre 2006 e 2008, a esquerda foi maioritária no parlamento italiano e chefiou quatro governos. No entanto, os desentendimentos entre comunistas, ex-comunistas, sociais-democratas, ecologistas e democratas-cristãos de esquerda ditou sempre a sua queda.
O principal desafio do centro-esquerda não será, assim, confrontar o centro-direita (semi-destruído pelo próprio Berlusconi), mas sim controlar os seus ímpetos auto-destrutivos. Além do mais, o futuro candidato a primeiro-ministro tem de fazer frente à boa imagem de que goza o governo tecnocrático encabeçado por Mario Monti e desarticular o movimento populista anti-político liderado pelo cómico Pepe Grillo. Tarefas que não parecem nada simples para um só homem.
sábado, 1 de dezembro de 2012
O exemplo argentino
A Argentina é um país fascinante pelas contradições que comporta. Estas começam logo na sua localização geográfica. Situada no hemisfério sul e no continente americano, os argentinos consideram-se, sobretudo, europeus.
A política não é uma excepção. A Argentina é um poço de contradições ideológicas: cada grande partido conta com tanta diversidade interna, que é possível encontrar num mesmo movimento correntes que vão da direita conservadora à extrema-esquerda. Muitas vezes, as afinidades são mais fáceis de encontrar em militantes de diferentes partidos do que em membros da mesma família política.
As principais incoerências argentinas têm-se feito sentir, sobretudo, no terreno económico. Em poucos anos, os governos (formalmente de um mesmo partido) foram capazes de passar do liberalismo radical de Carlos Menem ao intervencionismo keynesiano de Nestor Kirchner. Estas guinadas têm muito a ensinar-nos.
A falência técnica de 2001/2002 continua a constituir um trauma para os argentinos e é um caso único para nos explicar de forma muito clara os riscos que a Europa do Sul corre. Por isso, não me canso de sugerir este documentário. Vale a pena ver e rever.
As principais incoerências argentinas têm-se feito sentir, sobretudo, no terreno económico. Em poucos anos, os governos (formalmente de um mesmo partido) foram capazes de passar do liberalismo radical de Carlos Menem ao intervencionismo keynesiano de Nestor Kirchner. Estas guinadas têm muito a ensinar-nos.
A falência técnica de 2001/2002 continua a constituir um trauma para os argentinos e é um caso único para nos explicar de forma muito clara os riscos que a Europa do Sul corre. Por isso, não me canso de sugerir este documentário. Vale a pena ver e rever.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Recordar os Balcãs
A memória do consumidor de informação internacional, por norma, é curta. É um luxo ao qual o consumidor de informação nacional não pode dar-se. Todos os dias, quando saímos, somos recordados pelas nossas carteiras que os impostos aumentaram e que os salários diminuíram. No entanto, há temas internacionais que também não deviam cair no esquecimento.
Os Balcãs são um desses casos. Entre 1991 e 1999, fomos alertados pela comunicação social para uma teia de guerras étnicas e civis que parecia não ter fim. Sérvios contra croata, croatas contra bósnios, bósnios contra sérvios, sérvios contra kosovares... Os anos passaram e uma pacificação com pés de barro parece ter-nos feito esquecer que estes problemas continuam bem presentes na vida dos milhões de cidadãos que os sentiram na pele.
Os líderes e os burocratas europeus, por estas alturas tão preocupados com a resolução da crise e com a salvação do euro, deveriam ter presente estes acontecimentos e recordar que, se a Europa falha, tudo isto pode voltar numa escala ainda maior. Andamos todos entretidos a comparar a Merkel ao Hitler. Nada mais errado, porque de tão disparatado desvia as atenções dos problemas efectivamente sérios. Se a União Europeia falhar, os primeiros a sentir as consequências não serão os gregos ou os portugueses. Serão os bósnios, os sérvios ou os croatas, por não terem outra instituição que contenha os seus ultra-nacionalismos sempre latentes.
Os Balcãs são um desses casos. Entre 1991 e 1999, fomos alertados pela comunicação social para uma teia de guerras étnicas e civis que parecia não ter fim. Sérvios contra croata, croatas contra bósnios, bósnios contra sérvios, sérvios contra kosovares... Os anos passaram e uma pacificação com pés de barro parece ter-nos feito esquecer que estes problemas continuam bem presentes na vida dos milhões de cidadãos que os sentiram na pele.
Os líderes e os burocratas europeus, por estas alturas tão preocupados com a resolução da crise e com a salvação do euro, deveriam ter presente estes acontecimentos e recordar que, se a Europa falha, tudo isto pode voltar numa escala ainda maior. Andamos todos entretidos a comparar a Merkel ao Hitler. Nada mais errado, porque de tão disparatado desvia as atenções dos problemas efectivamente sérios. Se a União Europeia falhar, os primeiros a sentir as consequências não serão os gregos ou os portugueses. Serão os bósnios, os sérvios ou os croatas, por não terem outra instituição que contenha os seus ultra-nacionalismos sempre latentes.
O governo português não é o governo grego
Bruxelas parece estar a recuar em relação à extensão a Portugal dos benefícios concedidos à Grécia no início da semana. Durante alguns dias, generalizou-se a ideia de que Lisboa poderia beneficiar com a renegociação grega.
Não deixa de ser curioso que o governo português tenha feito tudo para desprezar publicamente esta opção. Noutra época ou com outros governantes, seríamos levados a pensar que uma atitude deste género era apenas para "inglês ver", enquadrada numa estratégia de negociação discreta, por detrás das câmaras e dos microfones. Porém, o executivo tem mostrado à saciedade que não "arranca" nada da União Europeia ou do Fundo Monetário Internacional. As pouca cedências dos credores foram obtidas perante meras constatações do inevitável. Era impossível alcançar a meta prevista no défice deste ano e tornou-se inevitável mais um ano para pagar a dívida, pelo que a troika cedeu.
É por todos reconhecido que Atenas está numa situação muito pior do que Lisboa. Mesmo assim, tem querido bater o pé. Sim, "querido bater o pé", porque um governo não pode ser tão impotente quanto o primeiro-ministro português procura fazer crer. Há uma vontade explícita dos nossos governantes em prosseguir com um plano que visa, sobretudo, a diminuição do nível de vida dos portugueses, em nome da miragem da atracção de investimento. No entanto, quase dois anos já deveriam ter servido para concluir que aqui nada de bom vai acontecer. A não ser que a economia alemã abrande tanto que volte a precisar dos mercados do sul da Europa.
João Martinho63 |
É por todos reconhecido que Atenas está numa situação muito pior do que Lisboa. Mesmo assim, tem querido bater o pé. Sim, "querido bater o pé", porque um governo não pode ser tão impotente quanto o primeiro-ministro português procura fazer crer. Há uma vontade explícita dos nossos governantes em prosseguir com um plano que visa, sobretudo, a diminuição do nível de vida dos portugueses, em nome da miragem da atracção de investimento. No entanto, quase dois anos já deveriam ter servido para concluir que aqui nada de bom vai acontecer. A não ser que a economia alemã abrande tanto que volte a precisar dos mercados do sul da Europa.
Um revés para Netanyahu
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
138 votos a favor da Palestina
Contagem decrescente para a Palestina
Faltam poucas horas para uma votação histórica que poderá colocar a Palestina mais próximo da soberania. Contra a vontade dos israelitas, deverá ser reconhecido esta noite, aos palestinianos, o estatuto de observador no quadro da ONU. A decisão será tomada pela Assembleia Geral desta instituição. Neste órgão, cada Estado tem um voto e não existe o direito de veto por parte de nenhuma delegação. Ao contrário do que tem acontecido no Conselho de Segurança, os alinhamentos na Assembleia Geral favorecem de forma clara as ambições da Palestina.
Travagem na Alemanha. Uma boa notícia para o sul?
Thomas Wolfe |
Direita de Sarkozy parte-se em dois
Confirma-se a ruptura na direita francesa. O antigo primeiro-ministro François Fillon formou um grupo parlamentar próprio, com 68 deputados dos 198 eleitos pela União para um Movimento Popular. O processo de pacificação promovido por Nicolas Sarkozy resulta, assim, num rotundo fracasso. Curiosamente, esta cisão desenvolve-se num momento de quebra de popularidade de Hollande e dos socialistas franceses. Os principais beneficiários: a extrema-direita da Frente Nacional.
Egipto, o novo Irão?
O mundo ocidental depositou grandes esperanças na "versão Egipto" da "primavera árabe". Durante semanas, os telespectadores europeus e norte-americanos tiveram os olhos postos nas transmissões em directo e nas reportagens emitidas a partir da Praça Tahrir, no Cairo. A comunicação social foi criando em nós, telespectadores, um desejo profundo de ver Hosni Mubarak fora do governo, como se fossemos especialistas em política egípcia. Os lados estavam bem definidos, o bem absoluto confrontava o mal em estado puro.
Porém, as coisas não eram bem assim. Na aliança contra o então presidente valia tudo e valiam todos. E uma boa parte desses "todos" tinham vínculos ou eram apoiantes da Irmandade Muçulmana, movimento islamista com um passado bastante distante da moderação. O braço político da Irmandade acabou por ganhar as eleições e a tutela militar parece ter sido substituída pela religiosa. Agora, o mundo depara-se com um presidente egípcio eleito que pretende ir mais longe do que o próprio Mubarak, em termos de controlo sobre as instituições.
Esta história não é nova e já teve versões mais radicais, como no caso da expulsão do xá do Irão e da tomada de poder pelos aiatolas. A substituição de um regime ditatorial por outro não constitui novidade. Provavelmente, muitos analistas tentaram iludir-se, comparando a Irmandade Muçulmana com o Partido para a Justiça e Desenvolvimento, no poder na Turquia. Infelizmente, o Egipto parece mais próximo do radicalismo do que da moderação.
Foto: Ikiwaner |
Esta história não é nova e já teve versões mais radicais, como no caso da expulsão do xá do Irão e da tomada de poder pelos aiatolas. A substituição de um regime ditatorial por outro não constitui novidade. Provavelmente, muitos analistas tentaram iludir-se, comparando a Irmandade Muçulmana com o Partido para a Justiça e Desenvolvimento, no poder na Turquia. Infelizmente, o Egipto parece mais próximo do radicalismo do que da moderação.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Brasil e Argentina unidos pela industrialização
Casa Rosada, Buenos Aires |
Republicanos não entram para o governo catalão
O próximo governo catalão não será constituído por uma grande coligação nacionalista. A Esquerra Republicana de Catalunya recusou, esta tarde, entrar num novo executivo liderado por Artur Mas, vencedor das eleições do passado Domingo. Fica, assim, mais longe o objectivo estabelecer uma aliança forte entre nacionalistas, que facilitaria a materialização do referendo acerca da soberania catalã. Recorde-se que a coligação liderada por Mas não obteve a maioria absoluta que reclamava para levar a cabo este projecto, tendo mesmo perdido mais de dez deputados em relação à legislatura anterior.
A vez dos moderados?
São cada vez mais os Estados europeus dispostos a apoiar explicitamente o estatuto de observador da Palestina na ONU. Depois de Espanha e França, hoje foi a vez da Suíça, da Áustria e da Dinamarca assumirem que irão votar a favor desta proposta. A votação deverá decorrer amanhã e, de acordo com todas as previsões, irá resultar numa estrondosa vitória da ala moderada do poder palestiniano. Entretanto, os moderados israelitas também se estão a movimentar, tendo em vista as eleições legislativas de Janeiro. Ontem, Tzipi Livni, antiga ministra dos Negócios Estrangeiros e líder do Kadima, anunciou a criação do partido centrista Movimento.
Argentina: ditadura no banco dos réus
A Argentina vai começar a julgar as execuções em massa levadas a cabo durante a última ditadura militar (1976-1983). Desde que Nestor Kirchner chegou ao poder, em 2003, terminou a relativa impunidade com que viveram, durante décadas, os antigos responsáveis e executantes das políticas de perseguição à oposição. Prevê-se que este julgamento venha a ser longo, em função do elevado número de crimes cometidos e dos respectivos autores.
Finalmente, algum consenso
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Os verdadeiros nazis
Armas da Hungria |
Novas suspeitas de corrupção em Espanha
Campanha online contra corrupção |
Intervalo no colapso da direita francesa
Fonte |
Uma vitória para os moderados da Palestina
Os franceses também parecem dispostos a reconhecer o estatuto de observador da Palestina na ONU. Desta forma, os tiros da intervenção israelita na Faixa de Gaza parecem ter saído pela culatra. Os radicalismos (Hamas e direita israelita) alimentam-se mutuamente, mas afugentam a moderação e secam tudo o que os rodeia. Será, assim, possível que a Europa (e Obama, no seu desejo mais íntimo e inconfessável) tenda a dar esta vitória ao único governo palestiniano reconhecido e reconhecível: o da Autoridade Palestiniana, localizado na Cisjordânia e liderado por Mahmoud Abbas.
Argentina e a imprensa espanhola
Fonte |
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Egipto na rua... outra vez
Fonte |
A pomba-falcão retira-se da política israelita
Ehud Barak, que tem dominado a política de Defesa do Estado de Israel nos últimos cinco anos, anuncia que se retira da política activa. Este antigo líder trabalhista (saiu do partido em 2011), foi primeiro-ministro de Israel entre 1999 e 2001 e foi uma das grandes esperanças no processo de paz. O seu estatuto de "pomba" durou poucos anos. Depois de ter sido um general ao serviço do exército israelita, tentou encontrar uma saída negociada para o conflito com a Palestina. Porém, com os anos, voltou à sua posição de "falcão", tendo sido um dos mentores da intervenção de 2008 nos territórios palestinianos. Nenhum movimento ou facção política ficam órfãos com esta retirada, uma vez que Barak actuava, sobretudo, por conta própria.
domingo, 25 de novembro de 2012
Última do primeiro dia
Depois de um dia levado a olhar para os catalães, apercebo-me de que mais de 3 milhões de italianos votaram nas primárias da esquerda que deverão, numa segunda-volta, eleger Pier Luigi Bersani como candidato a presidente do Conselho de Ministros italiano. Berlusconi parece ter passado definitivamente à história. Entretanto, a direita francesa, em vez de aproveitar as desorientações da presidência Hollande, começa a demonstrar um comportamento típico de esquerda (na forma e não no conteúdo): a UMP, instituída em 2002 para aproveitar o fácil consenso estabelecido em torno da reeleição de Chirac contra Le Pen, começa a esboroar-se, fruto de uma luta entre os delfins de Sarkozy. Até amanhã!
Contas finais... por agora.
Todos cantam vitória na Catalunha (um hábito na política espanhola). A CiU ficou em primeiro lugar. A ERC tem mais dez deputados. O PSC tem menos oito, mas achava que ia ficar com menos 14. O PP tem mais um deputado. O Ciudadanos tem mais seis. Os eco-socialistas da Iniciativa per Catalunya-Verds têm mais três. O Laporta já era e, no seu lugar, aparece uma formação de esquerda independentista (mais uma). Tudo baralhado e contas feitas, fica tudo como estava antes. Há uma crise económica para gerir e não parece ser com referendos sobre a independência que se vai resolver. O tempo o dirá.
Derrota de Mas
As sondagens iniciais faziam prever uma clara maioria nacionalista e soberanista. Com a evolução da noite eleitoral (mais de 80% dos votos escrutados), os socialistas aguentam melhor do que seria de esperar, a Convergència i Unió de Mas cai brutalmente, o Partido Popular sobe ligeiramente e a Esquerra Republicana de Catalunya duplica os votos. O Ciudadanos, um pequeno partido claramente contrário à independência e ao referendo, triplica os deputados. Configura-se uma derrota do nacionalismo catalão, com o atenuante da subida da ERC.
Catalunha a votos
A Convergència i Unió está muito longe da maioria absoluta que pedia para convocar o referendo sobre a independência da Catalunha. A contagem dos votos, em tempo real, pode ser acompanhada no site Generalitat.
Subscrever:
Mensagens (Atom)